Aperto nos céus

Antes da pandemia costumava viajar a trabalho para gringolandia com uma certa frequencia. E o pessoal adora fazer conferência lá em Las Vegas. Uns dizem que é pela disponibilidade de grandes estruturas e custo da hospedagem/alimentação. Já acho que é lobby da turma da farra porque pra isso não falta opção comparado com, digamos, Orlando.

Os voos de longa duração sempre são um problema. As cadeiras devem ser dimensionadas pelas companhias aéreas para uma média de tamanho das populações. A turma mais alta reclama que não tem espaço e encostam o joelho na cadeira da frente. Nós da turma do déficit de altura temos o problema que na hora de dormir não existe posição que você “encaixe” na cadeira de forma “confortável”. A forma de contornar essa situação foi um medicamento para enjoo, dava um soninho, ficava de qualquer jeito na cadeira mesmo, mas alerta num pulo. A propósito, era com receita médica. Não fazemos apologia a automedicação. 🙂

As vezes viajava sozinho, outras em grupo para as conferencias da empresa. Numa das últimas foi tudo meio em cima da hora e para marcar a ida e volta havia pouca opção. A contra gosto do time de risco e recursos humanos foi um bocado de gente no mesmo voo. O que é muito divertido pela bagunça da ida, quem chegou no aeroporto, quem tá atrasado e vai ficar pra traz, ver o Luis Souza explicando ao Polícia Federal pela enésima vez que é um homônimo dele que deve pensão alimentícia para ex, a conversa até mais de meia noite no corredor.

Na volta, todo mundo já está um bagaço só quer saber de chegar em casa, uns pro arroz com feijão, eu por uma xícara de café decente junto com o tradicional pão com requeijão.

Nessa volta em específico, voo cheio de colegas, mas cada um num canto sossegado. Tomo meu “aditivo” contra enjoo. Um colega de Brasília tomou um negócio mais forte e em menos de 15 minutos apagou completamente. Inicio de viagem sossegado, depois da janta bora encostar para dormir.

Uns sonhos meio estranhos: uma moça reclamando: “I wanna go…” “No…” “Não…” “Please” … tudo meio escuro… aí do nada começa uma gritaria e eu acordo. A moça reclamando era dentro do avião lá no fundão perto dos banheiros. Um comissário de bordo grita por ajuda começa aquela barulheira de confusão, outro comissário passa correndo pelo corredor, um passageiro do lado tenta levantar e leva um esporro pra ficar na cadeira. A ação acontecia há umas três fileiras para tras.

A confusão não para e a mulher gritava para pedir ajuda misturando ingles e portugues. Parecia situação de filme: o capitão pede atenção de todos os passageiros e pergunta se tem algum médico abordo. Um sujeito levanta e vai até a cabine conversar com o piloto, vai lá no fundão, volta pra conversar com o piloto mais uma vez.

Outro anuncio do capitão: “Atenção senhores passageiros precisaremos fazer um pouso de emergência no aeroporto mais próximo que é o de Trinidad e Tobago (é um país no Caribe, sei porque carreguei a bandeira deles num evento da escola em mil novecentos e guaraná com rolha, mas isso é outra história).

Dá uma meia hora da mulher choramingando, reclamando, se debatendo e ninguem entendendo nada. Pousamos. Todo mundo nem se mexia nas cadeiras. Olhava para os lados e só via cara de “ué?!?”.

Entram 3 militares no avião e carregam a mulher para fora. Um senhor sai junto com a mulher.

Mais um anúncio do capitão: “Senhores passageiros sentimos muito pelo ocorrido, mas uma passageira teve um surto e foi preciso retira-la da aeronave. Estamos terminando os tramites legais para dar continuidade a nossa viagem. Grato pela atenção.”

Nessa hora a turma toda se encontra pra fazer uma avaliação do ocorrido (fofoca): a tal passageira já entrou chapada no avião, comprou mais bebida no duty-free e foi até simpática oferecendo para quem estava próximo (inclusive uma colega nossa do time de vendas). Os comissários estavam espertos com a situação e durante a janta já não serviram bebida alcoólica para ela o que começou um certo climão. No meio do voo quando já estava todo mundo dormindo veio uma discussão com o acompanhante (não sabemos se namorado, marido, parente, amigo) e foi puta da vida pro fundo da aeronave. Lá armou um barraco com a tripulação e não por satisfeita tentou abrir a porta em pleno voo. Foi ai que iniciou o quebra-pau.

Os dois comissários conseguiram imobilizar a pessoa no chão (isso depois dela se debater, morder, cospir) e seguraram até o pouso forçado.

Enquanto estávamos em solo, o telefone deu sinal de vida. Aproveito e mando mensagem pra casa, explicando que vou chegar um pouco mais tarde que o programado sem dar detalhes pra não assustar. Depois de uma hora preso no avião em Trinidad decolamos e mais nada de extraordinário na viagem.

E o colega de Brasília? Acordou para tomar o café chegando em São Paulo. Ainda parou para perguntar: “Dormiram bem?”

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