Vila Velha, algum dia de algum mês de 1983 (acho)
No bairro de Itaparica havia um lugar chamado de Jockey Clube de Vila Velha. Se procura o glamour, pompa e circunstância tradicional de um Jockey Clube, não era nesse que iria encontrar. Uns 3 ou quatro galpões com uma duzia e meia de cavalos amontoados. Além dos equinos havia um bar, que até hoje é base de comparação de batata frita de verdade (lembra daquelas realmente feitas com batata e fritas em óleo de idade indefinida?). Ah, um campo de futebol também. A memória diz que todo sábado a tarde meu irmão e eu acompanhávamos o pai ir lá jogar futebol. Depois de um tempo ele arrumou uns cavalos para amontoar lá, mas isso é outra historia.
Acontece que num desses jogos meu pai quebrou a perna, ou quebraram a perna do pai. Provavelmente estava embrenhado no matagal/areial com as outras crianças e o que a gente menos fazia era assistir os adultos jogarem futebol.
Vamos assumir que ele teve que ficar 30 dias de molho e o “Tio Admir”, que também jogava futebol, emprestou para ele um moderníssimo videogame Game & Watch da Nintendo. Donkey Kong, Multiscreen, laranjinha. Começo a suspeitar que o Tio Admir pode ter influenciado essa fratura…
A gente só jogava o G&W com a permissão e supervisão do pai. Uma criança de 5 anos sozinha com aquilo era certeza de desastre. Tanto que pro final do repouso, peguei o jogo escondido, pulei o muro com fui mostrar para o amigo vizinho. Na hora de devolver coloquei de volta no mesmo lugar, primeira gaveta do armário de roupas.
Uns dias depois fui pego de surpresa com um castigo homérico (épico, fabuloso, lendário). Na empolgação não só havia arranhado o bicho todo (pra quem não conhece, ele possui uma chapa metálica que só de olhar feio já arranha). Ah, a trava que fecha as telas igualmente massacrada.
Não sei como devolveu, se foi no estado (lamentável), se comprou um outro novo. Nunca mais o vi lá em casa. E moral da história: nunca mais mexer nos pertences do pai, exceto aquela vez do radinho de pilha vermelho da National que parecia uma caneca, mas isso é uma outra história (com outro castigo lendário envolvido).
<35 anos depois>
Garimpando no Mercado Livre, encontrei um de bom custo mas meio judiado. Não pago 400 mérreus por um jogo de estado duvidoso. Aqueles que se dizem “raro, único no ML para colecionador exigente” completo com caixa e manual vai pra mais de milão. Coisa de doido.
Um ano depois consegui um Donkey Kong 2.
Ao menos com a trava inteira assim como a tampa das baterias. Mesmo assim, precisavam de um trato.
Agora em 2020, troquei uma idéia com o Shartoloncius que é colecionador e restaurador desses dispositivos. Gente fina, só não comenta de “MSX” Turbo-R que ele não para de falar. Fizemos um escambo e olha como voltaram!
Agora falta conseguir um Green House e acho que me dou por satisfeito.
PS1: Diz o pai que ele nunca quebrou a perna ou se machucou no futebol.
PS2: Na verdade são dois outros G&W que o Shartoloncius mandou. Ele gostou muito da minha parte na barganha e trocou por esses ai. E os surradinhos? Ficaram pra doação de peças.







